quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Karl Jaspers e situações-limite. Autor: Jairo Garcia

Ao participar da disciplina Ética do II Curso de Especialização em Filosofia da Universidade de Brasília em 2006, no qual foram apresentados diversos pensadores e entre estes, o filósofo alemão Karl Jaspers (1883-1969) e sua ótica filosófica sobre a existência, baseada, entre outros conceitos, em “situações-limite”, surgindoneste contexto um interesse real pelo tema. Surgiu assim o desejo de auxiliar de alguma forma para o esclarecimento e melhor entendimento de como o autor compreende o que ele mesmo define como situações-limite, assim como explorar a sua relevância para a filosofia e demais conhecimentos.

Pode-se apreender que o ser humano vive hoje em uma época de sensação de instabilidade e mudanças aceleradas, muitas vezes não refletidas e/ou não criticadas. O homem experimenta uma época, em diversos setores, de grande relativização e efemeridade de ideais, de valores éticos, de fundamentos culturais e da defesa da integridade humana.

O ser humano está absorto querendo mais e melhor mobilidade, rompimento de barreiras e fronteiras, querendo cada vez mais tecnologia e avanços bio-tecnológicos, o que o faz quase um senhor e escravo de si mesmo, manipulando num terreno incerto e complexo que é a existência e sendo manipulado por vezes. Além disso, o homem não quer abrir mão do sensacionalismo do novo, da curiosidade frente às novidades fugazes.

O ser humano está impactado com a era do desenvolvimento, avanços e destruição acelerados, via tecnicismo informatizado, da reificação de si e do outro, do cientificismo exacerbado. Vive-se a era de uma luta inconsciente, não clarificada, uma era dominada por tendências pragmáticas e utilitaristas em prol do avanço de uns em detrimento de outros.

Karl Jaspers, em seu livro Iniciação Filosófica, se empenha em pensar a atualidade. Afirma que vivenciamos uma época de “auto-esquecimento (...) fomentado pelo mundo da técnica. Pautado pelo cronômetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes que cada vez mais leva o homem a sentir-se peça imóvel e substituível”. Ainda sobre isto, afirma que “o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana e o homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder (...) em irrefletidas trivialidades e rotinas fixas” e oferece ao homem o caminho da orientação filosófica como um despertar, um reencontro rumo a sua origem e a si mesmo.

É nesta ótica que Jaspers interpreta a situação humana como “ausência de garantia de tudo que está no mundo. (...) Constantemente ameaçado, por vezes malogramos totalmente, não podendo abolir o envelhecimento, a doença e a morte” . A existência é compreendida como um conglomerado de situações que são limitadoras do homem o qual se compreende conscientemente e historicamente situado, entre estas as chamadas situações-limite.

Jaspers afirma que estas situações-limite, são aquelas situações que constituem nosso viver, ou seja, situações sem as quais não se pode viver como: lutar, sofrer, acaso, se culpar e morrer. Estas não se transformam a não ser nos “modos” em que se manifestam. Usa a metáfora do “muro”, para falar delas, pois as apreende como barreiras, com as quais nos deparamos e ante as quais experimentamos o fracasso: as situações-limite não podem ser satisfatoriamente explicadas, dominadas e nem transformadas, somente esclarecidas.

Jaspers teve como centro de sua reflexão e discurso filosófico o ser-no-mundo como ser-em-situação. Situação cujo sentido está ligado aos temas que giram em torno da existência humana: historicidade, temporalidade, liberdade, finitude, sofrimento, fracasso, morte e Transcendência. Da existência, só podemos ter índices, como exemplo, a liberdade, a comunicação e a historicidade, que são indicadores irreversíveis e da Transcendência, só podemos ter cifras, que encontramos, “lemos” e “ouvimos”. As situações-limite carregam esta dupla evidência: evidência da existência e, de outro lado, da inefabilidade pela qual se anuncia a transcendência. Elas nos remetem à nossa condição humana.

Assim, pode-se compreender que a existência não é um valor, nem um estado. É, antes, inquietude, liberdade, comunicação, historicidade, um movimento fundamental do eu em direção a si-mesmo, do eu em direção ao outro(s). O pensamento, por seu lado, só tem sentido na fidelidade autêntica a essa existência que está, no seu âmago, vinculada à transcendência.

Hoje, pós-derrocada dos ideais utópicos positivos baseados apenas no progresso científico, num período obscuro e após duas grandes guerras, genocídios e massacre da própria espécie, experienciaria o homem contemporâneo uma dimensão de finitude, de pequenez? Será que este se percebe lançado num mundo no qual a capacidade de escolher, de tomar decisão fica dilacerada por situações problemáticas e absurdas? Reconhece sua condição humana? Percebe-se lançado num conjunto de situações limitadoras do seu agir e decidir? E essas podem ser compreendidas, transformadas, esclarecidas? Se puderem ser esclarecidas, como entender o esclarecimento através do que Jaspers chama de “orientação filosófica de mundo” facilitadora do caminhar do homem frente a sua existência?

No seu conjunto, a obra Jaspers apresenta-se, pela sua autenticidade e pela sua humanidade, como uma chave de entendimento para as várias oscilações do ser-no-mundo enquanto projeto existencial.

2 comentários:

Anônimo disse...

Por que nao:)

Anônimo disse...

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